8 de mar. de 2011

Professores norte-americanos em situação difícil também

Os ataques que Erin Parker ouviu sobre seu trabalho a deixaram atordoada. “Ah, seus professores patéticos”, diziam os comentários na internet e os cartazes dos manifestantes contrários. “Vocês são babás idolatradas que saem do trabalho às três da tarde. Vocês merecem salário mínimo.”


“Você sente um soco no estômago”, disse Parker, professora de ciências de segundo grau em Madison, Wisconsin, onde a ocupação que os funcionários públicos fizeram do Capitólio estadual atrasou mas não deteve o plano do governador de tentar tirar deles o direito de negociação.
Parker, professora de segundo colegial que ganha US$ 36 mil por ano, teme que com a lei proposta as salas de aula cresçam e o aumento de impostos sobre seus benefícios a derrubem da classe média.


“Eu amo ensinar, mas tenho uma dívida estudantil de US$ 26 mil”, disse ela. “Tenho 30 anos, e não consigo guardar dinheiro suficiente para dar entrada” numa casa. Ela também não tem carro. Parker está fazendo planos para se mudar para o Colorado, onde ela poderá continuar ensinando se voltar a morar com os pais.


Em todo o país, muitos professores veem as demandas para cortar seus salários, benefícios e poder de voz sobre a administração das escolas por meio da negociação coletiva como ataques não só contra seu meio de vida, mas também contra seu valor para a sociedade.
Até mesmo num país em que tem opiniões conflitantes sobre os professores – os norte-americanos se lembram com alegria daqueles que mudaram suas vidas, mas acham que é um trabalho fácil por causa das férias de verão – especialistas em educação dizem que os professores raramente foram alvo de tanto desprezo por parte de políticos e eleitores.


Legisladores republicanos em meia dúzia de Estados estão pressionando para acabar com as proteções de emprego permanente e por tempo de experiência que existem há mais de 50 anos. As críticas do governador Chris Christie contra os professores de Nova Jersey em encontros ao estilo de assembleias, acusando-os de serem gananciosos, acertaram uma veia populista e o transformaram num astro nacional.


Os prefeitos estão ameaçando demissões em massa, inclusive na cidade de Nova York e em Providence, R.I., onde todos os 1.926 professores foram informados na semana passada de que perderiam seus empregos – um gesto muito mais simbólico, uma vez que a maioria será recontratada.


Alguns especialistas questionam se o ensino, que já tem uma alta taxa de desistência – mais de 25% deixam a profissão nos três primeiros anos – irá atrair profissionais de qualidade no futuro.
“É difícil se sentir bem consigo mesmo quando o governador e outras pessoas dizem que você faz um trabalho ruim”, disse Steve Derion, 32, que ensina história norte-americana em Manahawkin, Nova Jersey. “Tenho certeza de que houve tempos piores para ser um professor em nossa história – sei que os professores tinham muito poucos direitos – mas parece que estamos voltando naquela direção.”


Os que fazem pressão contra as concessões dos professores insistem que as mudanças melhorarão as escolas.


“Isto não é de nenhuma forma um ataque contra os professores; é um esforço abrangente para reformar um sistema”, disse Tony Bennett, superintendente de instrução pública em Indiana, onde os manifestantes também cercaram o Capitólio em oposição aos projetos de lei apoiados por Bennett e o governador Mitch Daniels, republicano. O projeto de lei limitaria o poder de negociação coletiva dos professores em relação ao pagamento e benefícios e permitira que os diretores estabelecessem os tamanhos das salas e horários escolares, e demitissem professores com base no desempenho no trabalho, e não nos anos de serviço.


Bennett disse que o sindicato de professores do Estado distorceu a lei para gerar medo.
Há sinais de uma repercussão a favor dos professores. Uma pesquisa feita pelo New York Times na semana passada revelou que uma proporção de quase dois para um – 60% contra 33% - dos norte-americanos se opõem a restringir a negociação coletiva para os funcionários públicos. Uma maioria similar – incluindo mais da metade de republicanos – diz que os salários e benefícios da maioria dos funcionários públicos estavam “corretos” ou “muito baixos”.


Quanto ao humor dos professores, uma pesquisa anual patrocinada pela Fundação MetLife revelou em 2009, antes da explosão de críticas deste ano, que 59% dos professores estavam “muito satisfeitos”, 40% a mais do que em 1984. Em entrevistas realizadas esta semana, até professores que enfrentam demissões ou cortes de salário sentiram um chamado para estar na sala de aula.


“Eu coloco meu coração e minha alma no ensino”, disse Lindsay Vlachakis, 25, professora de matemática de segundo grau em Madison. “Quando as pessoas atacam os professores, elas estão me atacando.”


Embora reduzir os déficits orçamentários seja a causa imediata da pressão dos legisladores, outra justificativa para muitas das medidas propostas vem de um amplo movimento pela responsabilidade, que quer aumentar o desempenho dos estudantes e acredita que os sindicatos de professores obstruem o caminho para isso.


A responsabilidade, principalmente aquela medida pelas notas dos alunos, trouxe mudanças grandes à educação e ainda promete mais, mas muitos professores sentem que as mudanças são impostas sem nenhuma consulta aos educadores nas salas de aula. Quase 70% disseram que na pesquisa da MetLife que suas vozes não eram ouvidas nos debates de educação.
Chester E. Finn Jr., presidente do Instituto Thomas B. Fordham, um grupo conservador de política educacional, disse que o declínio de status dos professores está ligado ao sucesso dos sindicados em pagar os professores e garantir a segurança no trabalho baseada em seus anos de serviço, e não em sua capacidade.


“Eles estão colhendo um fruto amargo que não plantaram individualmente, mas que sua profissão plantou ao longo de 50 anos, passando de uma profissão respeitada para uma força de trabalho em massa em que cada um é tratado como se fosse substituível, como nas fábricas de aço de antigamente”, disse Finn.


Aqueles que se opõem à iniciativa de avaliar os professores de acordo com as notas dos alunos argumentam que isso retirará bons professores das escolas que mais precisam.


Anthony Cody, que deu aula de ciências no primeiro grau durante 18 anos e agora instrui novos professores no distrito escolar de Oakland, Califórnia, disse que muitos saem antes do marco de três anos por salários mais altos e melhores condições em outros lugares.


Oakland tem muitos alunos pobres e escolas no final da lista dos testes padronizados – escolas que o Departamento de Educação identifica como candidatas a grandes reformas, reduzindo metade de sua equipe.


“O que precisamos nessas escolas é de estabilidade”, disse Cody, 52, que escreve um blog sobre educação. “Precisamos convencer as pessoas que, se elas investirem sua carreira em trabalhar com esses alunos difíceis, então podemos recompensá-las e valorizá-las. Não vamos submetê-las à humilhação arbitrária nos jornais. Não vamos exigir que sejam avaliadas e pagas com base nas notas dos alunos, que costumam flutuar além do controle dos professores.”


Cody reconheceu que muitos de seus colegas mais jovens, que cresceram numa época em que as notas já eram usadas para medir o progresso e a responsabilidade – primeiro para as escolas, e agora cada vez mais para os professores – não são tão resistentes ao conceito.


“Não estou muito preocupado com isso”, disse Kevin Tougher, 31, que dá aulas na terceira série em Lake Grove, Nova York, onde um novo sistema de avaliação estadual classificará os professores baseado 40% nas notas de seus alunos ou em medições similares.


No mês passado Tougher foi notificado de que seria demitido este ano por não ter muito tempo de serviço, de acordo com os cortes propostos pelo Estado aos auxílios às escolas. Sindicalista, ele acredita que as demissões baseadas no tempo de serviço são justas.


“A parte do tempo de serviço eu entendo”, diz Tougher, que é solteiro. “Embora seja frustrante se eu for afastado no ano que vem, é assim que as coisas acontecem às vezes.”


Fonte: http://eduqueweb.net/educar/index.php?q=node/503 - Traduzido de The New York Times

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