5 de ago. de 2009

Boaventura Sousa Santos e Paula Menezes - Sinpro Minas

Epistemologias do Sul - O papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes


O sociólogo Boaventura principia seu diálogo com as seguintes reflexões: “hoje é difícil imaginar o fim do capitalismo, mas é igualmente difícil imaginar que não tenha fim.”, “a teoria crítica é derivativa, adjetiva, não há substantivos e reafirma (reinventa) os conceitos dominantes.”


Um convite a repensar...


A repensar o Brasil por meio de releituras sociais produzidas e reproduzidas, inventadas e reinventadas ao longo da formação social em que os excluídos às margens do construto do dogma político-econômico não foram incluídos enquanto parte significativa do processo constitutivo, pelo menos no que diz respeito às mesmas condições dignas de vida, com os mesmos direitos presentes na Constituição do Estado Brasileiro.


Boaventura fez alusão ao magnânimo pensador Brasileiro Milton Santos, este que é uma referencia substancial dos excluídos, suas contribuições significativas a respeito de uma nova globalização possível dialogam com as contribuições de Paulo Freire, Leonardo Boff, grandes pensadores Brasileiros que ensignaram e ensignam nas entrelinhas da historicidade dos excluídos, bem como as reflexões que iniciam o diálogo de Boaventura e da antropóloga de Moçambique Paula Menezes.


Boaventura nos contempla em sua obra Epistemologias do Sul - O papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes – rico em artigos que problematizam o monopólio do conhecimento na modernidade que se estende e promove aparentemente uma nova era e aponta para a necessidade da democratização dos saberes.


A justaposição entre Ciências e Tecnologia ofusca a racionalidade humana em função do distanciamento entre o homo sapiens sapiens e o tecnológico-homo.


Bem ressaltado pelos cientistas Boaventura e Paula Menezes sobre a questão dos conceitos, percebe-se que há um distanciamento entre as teorias e as práticas que desconceitualiza o sentido da palavra conceito, seu significado sofrera mutabilidade ao passo que o homem e o meio se transformavam. É possível no processo de transformação conceitual perder-se a gênese do conceito ou pelo menos o que o engendrara no processo constitutivo dos sentidos e significados no qual o homem vêm atribuindo em sua formação humana?


Entre os gregos combinar os termos téchne (arte, destreza) e logos (palavra) orientava o discurso sobre o sentido e a finalidade das artes - técnica e arte no mundo grego possuíam apenas uma pequena distinção, a téchne não era uma habilidade qualquer e requeria o uso de certas regras. Heródoto, o primeiro a definir o termo téchne, apresenta-o como um "saber fazer de forma eficaz" e, segundo Platão, seu sentido diz respeito à "realização material e concreta de algo". A natureza inteligente do homem permite-lhe transformar pela téchne a realidade natural em uma realidade artificial com a finalidade de sua subsistência e proteção. Conforme Aristóteles, a téchne é superior à experiência, mas inferior ao raciocínio. Entretanto demanda este último. Em relação ao conhecimento, enquanto a epistéme era para os gregos um conhecimento teórico a téchne era um conhecimento prático, com vistas a um objetivo concreto.


É possível repensar a utilização em separado da epistéme e da téchne de modo a lhe integrarem e interdisciplinarem para que haja uma dialética do esclarecimento condizente com o conceito de Estado Democrático de Direito Social?


Inicialmente, o conceito de Estado Democrático de Direito Social deve ser entendido como uma estrutura jurídica e política, e como uma organização social e popular, em que os direitos sociais e trabalhistas seriam tratados como direitos fundamentais. Assim, vale dizer, os direitos sociais encontrar-se-iam sob a guarda de garantias institucionais que os defendessem do assédio privatista do capitalismo e suas dissimuladas performances neo-capitalistas presentes na culta de consumo em massa.


A antropóloga Paula Menezes de Moçambique brilhantemente nos convida a “trabalhar com e não sobre”, seu português colore o Teatro Granada do Minascentro na noite de 04 de agosto de 2009 ao proferir poeticamente que “formamos conformistas nas universidades, é necessário formar rebeldes competentes”, enfatiza que “é necessário contextualizar experiências”, “da valorização das línguas não coloniais que são reconhecidas constitucionalmente” e “que o capitalismo elege certos conhecimentos como oficiais e desconsidera o valor dos outros que são considerados obscurantismo, ritualísticos, religião e etc”.


Belo Horizonte em sua noite ímpar consubstancia-se de beleza e encantamentos, os excluídos são sentidos graças a sensibilidade de Cientistas Sociais que traz à luz da racionalidade das Ciências, um tempo do ser, este que há muito desconstitui-se em função do ter absolutista e efêmero.


Em um momento sublime as palavras Epistemologias do Sul me convidam a apreender os sentidos e significados da noite e uma correlação com o cotidiano e o afã da sobrevivência da subsistência dos andarilhos, dos sem direitos ao teto, dos sem direito a permanência a escola e a uma Educação, dos sem direito ao lazer, dos sem direito ao alimento, dos sem direito a saúde, no entanto, plenos de utopias e de um esperançar Freireano, não só me faz sentir como também me faz enquanto aprendiz literário, arriscar uma poesia.



Ei, psiu temos logia!


Nosso cio da erra

Ressoa das cantigas

Bem sentidas no ar

Além mar

Entre as serras de Beagá


Sob o sol do equador

Nas mãos do lavrador

Flori calo sonhador


Dos negros o suor

Sacia a sede de amor

De um ideário silenciado

Pulsar a-lado


Ei, psiu temos logia!


Nos rituais plantios

Plenos de significados e sentidos

Movimentos do alimento


Do manancial brota o fruto

À margem do futuro

O presente eterno

Do Espírito fraterno


Da terra somos semente

À terra retroalimentamos

Não como gente e sim como ente


Wellington Bernardino Parreiras

Mineirim das Gerais

04/08/2009

20:45

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