5 de ago. de 2009

Aprender... Sim, mas como?

“O que nós fazemos nunca é compreendido, apenas louvado ou condenado."
Friedrich Nietzsche

Uma releitura em curso...


Ao passo que educadores dos diversos níveis do ensino brasileiro aprendem a ensinar em meio a um processo transformatório acentuado em nossa contemporaneidade, visando suprir às exigências de um paradigma subsidiado por ideologias neo-capitalistas adornadas por uma hipervalorização do produto, as contra-indicações afloram significativamente nos espaços escolares e universitários, estas que sinalizam a necessidade de repensar sobre a real finalidade da Educação contemporânea e porque não da vida enquanto natureza contínua.

Em um vaivém informacional bombardeado pelo universo midiático, opiniões se entrelaçam e pouco contribuem para uma reestruturação coerente, coesa e efetiva em resposta às dissonâncias sociais. É certo que manifestações em repúdio ao dogma da política econômica existem, todavia, com poucas repercussões nos holofotes midiáticos e quando são mencionadas, muitas vezes são deturpados seus simbolismos políticos.

O que de fato dificulta a sociedade brasileira em ditar mecanismos políticos plausíveis capazes de consolidar uma sociedade igualitária?

Sabe-se que permeia enquanto redentora de nossa qualidade de vida, melhor, de um País autônomo economicamente, a Educação, está que traz consigo o adjetivo Qualidade, porém é preciso repensar quais são os ideais norteadores de tal Educação.

Dentro desse redemoinho juntamente com educadores, há também universitários que naufragam em uma conexão ora real, ora virtual. Em meio a uma tempestade torrencial, predomina uma sensação de impotência engendrada por um mecanismo dissimulado, este que produz-reprodução, profissionais da Educação impregnados de um discurso politizante libertário aparente recheiam as entrelinhas com ideologias obsoletas e plenamente conservadoras em dretimento de uma gratificação que desqualifica paulatinamente sua identidade educacional.

Se a educação é realmente a redentora, tida como o ponto de mutação cultural, pelo menos na perspectiva de Mandela que nos adverte que “A educação é a mais poderosa arma pela qual se pode mudar o mundo.”. Máxima refletida e sinalizada por diversos pensadores-educadores que ao longo da formação humana são ignorados, como por exemplo, Friedrich Nietzsche.

Ao ler “Escritos sobre Educação.”, subentende-se o porquê das desconsiderações provenientes das corporações econômicas e paralelamente do Estado que suplantam a Educação. Creio que Nietzsche pode oxigenar relevantes contribuições para a reflexão atual em torno da educação, uma vez que, quão contemporâneas são as análises “sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino”.

Cabe aos universitários que em sua trajetória escolar cicatrizaram as memórias de seus educadores com uma ímpar inquietação cognitiva e comportamental significativas, manifestarem como dantes, suas experiências obtidas em sala de aula, contudo, vasto de referencial teórico para que possa mediar à política educacional vigente sem desconsiderar sua “leitura de mundo”, Paulo Freire, com isso haverá transformações no Sistema Educacional.

Aprender... Sim, mas como?

A pedagogia entre o dizer e o fazer: uma releitura no ato de educar contemporâneo. - propõe um ressignificar pedagógico por meio de uma pedagogia de valores, para isso, é vital re-ler o próprio posicionamento político e ideológico em um tempo que o sistema capitalista impõe múltiplas performances intelectuais, sua peculiaridade tem respaldo no paradigma Ciência e Tecnologia.

Ao avaliar a História da educação, pressupõe-se que todas às transformações sociais direta ou indiretamente se dão em paralelo com a educação vigente correspondente a periodização histórica, entretanto, não é sensato permitir focalizar somente nos aspectos exteriores a Educação, uma vez que, seus atores são também protagonistas de ideologias que descaracterizam a essência do educare. – do latim educare, educere – aquilo que vem de dentro; que propicia o desenvolvimento das faculdades.

A História da Educação Brasileira parece inaugurar o século XXI como o início de um tempo voltado à própria História da Educação do Brasil.

Sistema capitalista reorganizado no advento tecnológico

Graças à reorganização do sistema capitalista diante o big bang suscitado na junção entre Ciência e Tecnologia, que concebe e enfatiza um discurso maquiador sob uma Educação de qualidade, a sociedade como um todo fala de Educação de Qualidade, mas sobre quais parâmetros?

De fato a Educação atinge uma dimensão imensurável nas múltiplas linguagens midiáticas que propagam nos mais longínquos espaços habitados desse vasto Estado Brasileiro, em exceção os lugarejos ainda não potencializados sob uma expectativa político-econômica.

Diante de substancial relevância envolta da Educação, alça-se um rótulo dissimulado por uma ideologia esperançosa e ao mesmo tempo redentora, capaz de cegar a racionalidade humana e amputar a sabedoria popular, isso desconfigura não somente a concepção de edurece, assim como a práxis e formação de novos intelectuais.

É de suma importância ressaltar também as dissonâncias individuais e a hiperespecialização de profissionais como um todo e sua pós-formação que se alocam como quebra-cabeça.

Wellington Bernardino Parreiras

Idealizado por Wellington Bernardino Parreiras, graduando o 6° período em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas. Contatos: e-mail: well.bernardino@yahoo.com.br ou wellbernardino@gmail.com - Cel. (31) - 9851-4113 ou 8703-4100 .

Boaventura Sousa Santos e Paula Menezes - Sinpro Minas

Epistemologias do Sul - O papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes


O sociólogo Boaventura principia seu diálogo com as seguintes reflexões: “hoje é difícil imaginar o fim do capitalismo, mas é igualmente difícil imaginar que não tenha fim.”, “a teoria crítica é derivativa, adjetiva, não há substantivos e reafirma (reinventa) os conceitos dominantes.”


Um convite a repensar...


A repensar o Brasil por meio de releituras sociais produzidas e reproduzidas, inventadas e reinventadas ao longo da formação social em que os excluídos às margens do construto do dogma político-econômico não foram incluídos enquanto parte significativa do processo constitutivo, pelo menos no que diz respeito às mesmas condições dignas de vida, com os mesmos direitos presentes na Constituição do Estado Brasileiro.


Boaventura fez alusão ao magnânimo pensador Brasileiro Milton Santos, este que é uma referencia substancial dos excluídos, suas contribuições significativas a respeito de uma nova globalização possível dialogam com as contribuições de Paulo Freire, Leonardo Boff, grandes pensadores Brasileiros que ensignaram e ensignam nas entrelinhas da historicidade dos excluídos, bem como as reflexões que iniciam o diálogo de Boaventura e da antropóloga de Moçambique Paula Menezes.


Boaventura nos contempla em sua obra Epistemologias do Sul - O papel dos Movimentos Sociais na Produção de Saberes – rico em artigos que problematizam o monopólio do conhecimento na modernidade que se estende e promove aparentemente uma nova era e aponta para a necessidade da democratização dos saberes.


A justaposição entre Ciências e Tecnologia ofusca a racionalidade humana em função do distanciamento entre o homo sapiens sapiens e o tecnológico-homo.


Bem ressaltado pelos cientistas Boaventura e Paula Menezes sobre a questão dos conceitos, percebe-se que há um distanciamento entre as teorias e as práticas que desconceitualiza o sentido da palavra conceito, seu significado sofrera mutabilidade ao passo que o homem e o meio se transformavam. É possível no processo de transformação conceitual perder-se a gênese do conceito ou pelo menos o que o engendrara no processo constitutivo dos sentidos e significados no qual o homem vêm atribuindo em sua formação humana?


Entre os gregos combinar os termos téchne (arte, destreza) e logos (palavra) orientava o discurso sobre o sentido e a finalidade das artes - técnica e arte no mundo grego possuíam apenas uma pequena distinção, a téchne não era uma habilidade qualquer e requeria o uso de certas regras. Heródoto, o primeiro a definir o termo téchne, apresenta-o como um "saber fazer de forma eficaz" e, segundo Platão, seu sentido diz respeito à "realização material e concreta de algo". A natureza inteligente do homem permite-lhe transformar pela téchne a realidade natural em uma realidade artificial com a finalidade de sua subsistência e proteção. Conforme Aristóteles, a téchne é superior à experiência, mas inferior ao raciocínio. Entretanto demanda este último. Em relação ao conhecimento, enquanto a epistéme era para os gregos um conhecimento teórico a téchne era um conhecimento prático, com vistas a um objetivo concreto.


É possível repensar a utilização em separado da epistéme e da téchne de modo a lhe integrarem e interdisciplinarem para que haja uma dialética do esclarecimento condizente com o conceito de Estado Democrático de Direito Social?


Inicialmente, o conceito de Estado Democrático de Direito Social deve ser entendido como uma estrutura jurídica e política, e como uma organização social e popular, em que os direitos sociais e trabalhistas seriam tratados como direitos fundamentais. Assim, vale dizer, os direitos sociais encontrar-se-iam sob a guarda de garantias institucionais que os defendessem do assédio privatista do capitalismo e suas dissimuladas performances neo-capitalistas presentes na culta de consumo em massa.


A antropóloga Paula Menezes de Moçambique brilhantemente nos convida a “trabalhar com e não sobre”, seu português colore o Teatro Granada do Minascentro na noite de 04 de agosto de 2009 ao proferir poeticamente que “formamos conformistas nas universidades, é necessário formar rebeldes competentes”, enfatiza que “é necessário contextualizar experiências”, “da valorização das línguas não coloniais que são reconhecidas constitucionalmente” e “que o capitalismo elege certos conhecimentos como oficiais e desconsidera o valor dos outros que são considerados obscurantismo, ritualísticos, religião e etc”.


Belo Horizonte em sua noite ímpar consubstancia-se de beleza e encantamentos, os excluídos são sentidos graças a sensibilidade de Cientistas Sociais que traz à luz da racionalidade das Ciências, um tempo do ser, este que há muito desconstitui-se em função do ter absolutista e efêmero.


Em um momento sublime as palavras Epistemologias do Sul me convidam a apreender os sentidos e significados da noite e uma correlação com o cotidiano e o afã da sobrevivência da subsistência dos andarilhos, dos sem direitos ao teto, dos sem direito a permanência a escola e a uma Educação, dos sem direito ao lazer, dos sem direito ao alimento, dos sem direito a saúde, no entanto, plenos de utopias e de um esperançar Freireano, não só me faz sentir como também me faz enquanto aprendiz literário, arriscar uma poesia.



Ei, psiu temos logia!


Nosso cio da erra

Ressoa das cantigas

Bem sentidas no ar

Além mar

Entre as serras de Beagá


Sob o sol do equador

Nas mãos do lavrador

Flori calo sonhador


Dos negros o suor

Sacia a sede de amor

De um ideário silenciado

Pulsar a-lado


Ei, psiu temos logia!


Nos rituais plantios

Plenos de significados e sentidos

Movimentos do alimento


Do manancial brota o fruto

À margem do futuro

O presente eterno

Do Espírito fraterno


Da terra somos semente

À terra retroalimentamos

Não como gente e sim como ente


Wellington Bernardino Parreiras

Mineirim das Gerais

04/08/2009

20:45